Colcha de Retalhos

Colcha de Retalhos
Ingrid Sidna

sábado, 7 de agosto de 2010

O Mundo em que vivemos



Vivemos em um mundo onde a liberdade é um direito,
mas muitos não a possuem.
Onde a paz é um desejo,
e a guerra uma necessidade prazerosa.
Onde a vida não é aproveitada,
por causa do temor à morte.
Onde sinceridade, muitas vezes torna-se indelicadeza, 
e a falsidade é uma atividade do nosso cotidiano.
Onde a inteligência humana salva vidas,
e a ganância tira várias.
Será que os fins justificam os meios?
Não! Os meios devem ser justificados,
mas com sabedoria e bom senso.
Um mundo onde um bandido com paletó é respeitado, 
entretanto um mendigo honesto é queimado, 
enquanto descansa de um dia de sofrimentos.
Onde os criminosos têm regalias, ou estão soltos, 
e as famílias são obrigadas a se trancafiarem nas suas próprias casas.
Abrangendo a frase de um poeta que interrogava:
"Que país é este?", pergunto-me:
Que mundo é este? Onde a única certeza,
é em relação a sua forma.
Um mundo onde tudo se faz por dinheiro,
e quem não segue as normas é "deixado para trás".
Onde todos devem ser doutores,
por vontade ou pressão.
O que será das outras profissões?

Onde o ilícito é muitas vezes confundido com o lícito,
e as atitudes lícitas tornam-se cada vez mais raras.
Um mundo que cria máquinas de última geração,
mas não consegue achar uma solução para a poluição.
Um mundo que sem saber, ou até mesmo sabendo,
destrói a si mesmo, em prol do lucro.
Mas "para não dizer que não falei de flores".
Vivemos em um mundo onde muitas pessoas fazem o bem,
sem o interesse de receber nada em troca.
Onde "o homem é o lobo que devora o próprio homem",
mas frequentemente é o "São Bernardo" que o resgata do perigo.
Onde alguns pais matam os filhos,
e outros dão a vida pelos mesmos.
Onde a criança vive inocentemente e vive em uma utopia encantadora.
É neste lugar misterioso e fascinante que vivemos,
onde uma semente chamada esperança,
é plantada junto com cada feto.
E o desejo de um futuro melhor é comum a todos.
Sendo assim, enquanto houver esperança,

verei o mundo com um olhar crítico, mas otimista.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Raízes do Brasil


Sérgio Buarque de Holanda se tornou um clássico entre os pensadores que trataram da formação histórica e cultural do Brasil. Sua obra Raízes do Brasil, ao lado de Casa-Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, e O Povo Brasileiro, de Darcy Ribeiro, figura como uma das mais importantes para o entendimento da construção social do Brasil. 

Holanda difere da perspectiva de autores como Freyre e Ribeiro, que enfatizam a importância da mestiçagem étnico-cultural para a configuração do povo brasileiro. Ele considera o elemento lusitano como predominante. Mesmo onde há mistura, esta teria sido devida mais a uma plasticidade portuguesa a adaptar e se adaptar a novos costumes do que a uma mescla de culturas. A seu ver toda a associação se deu com o predomínio e precedência dos colonizadores portugueses, perspectiva que diminui a grande importância dos outros elementos étnico-culturais, notadamente do aborígine nativo e do escravo africano. 

O autor trabalha com dois tipos ideais de colonizador, que ele caracteriza pelas dualidades sugestivas o trabalhador e o aventureiro e o ladrilhador e o semeador. Os povos ibéricos, tanto portugueses quanto espanhóis, teriam sido, segundo Holanda, predominantemente aventureiros, ou seja, teriam feito uma colonização que primava pela exploração comercial das matérias-primas da colônia, não se preocupando tanto com o cultivo sedentário da terra que caracteriza a labuta do trabalhador. Os lusitanos teriam sido mais semeadores do que ladrilhadores, o que quer dizer que suas colônias não eram planejadas, eram de certa forma orgânicas. Diferente do projeto ladrilhador norte-americano e da América espanhola, onde se tratava de transpor a cultura da metrópole para a colônia, os portugueses se deixaram recriar sua cultura, tecnologia, arquitetura e urbanismo, adaptando-os, com improviso e com a mistura com as culturas nativas e africanas, à realidade da nova terra. 

O povo brasileiro teria formado uma psicologia, em certos termos, trágica, realista, que aceita a vida como ela é, sem formar grandes ilusões nem imaginar grandes expectativas. Não haveria, assim, para esse povo, grandes motivações vocacionais no trabalho, que pode ser qualquer um, desde que traga dinheiro. Além disso, o brasileiro se caracterizaria, antes de tudo, por ser cordial, querendo isso dizer que suas relações com outros se dá pela cordialidade, sendo quase sempre pautadas pela aparência da gentileza, normalmente confundindo bons modos com boa índole. Até o intelectual brasileiro tenderia a misturar e sustentar opiniões diversas, muitas vezes contraditórias entre si, desde que pudessem se apresentar por palavras bonitas e argumentos elegantes. 


Holanda equipara a colonização portuguesa, essencialmente comercial, com a colonização dos povos mediterrâneos antigos, principalmente fenicios e gregos. O autor lembra que a colônia brasileira ficou por muito tempo restrita ao litoral, e se refere ao caráter dos povos litorâneos, que, segundo ele, não se dedicam a atividades agrícolas e assim não desenvolvem costumes civilizados. Percebe-se que o teor de sua obra é elitista e eurocêntrico, beirando o racismo. Ao mesmo tempo em que louva o trabalho colonizador que trouxe a América à civilização de modelo europeu, lamenta que não tenham sido, de preferência aos ibéricos, os europeus nórdicos, notadamente os holandeses, a implantar na nova terra a modernidade. É notável que o autor se lamente do pouco caso dos portugueses e brasileiros pela autoridade e pela rigidez das hierarquias. Holanda é taxativo ao criticar o costume em que nomes de famílias nobres são adotados pelas mais diversas camadas da sociedade sem nenhum preconceito.


terça-feira, 3 de agosto de 2010

Bossa Nova!




História
Incompreendida no início, a bossa nova, depois de firmar-se no Brasil, acabou por ganhar o mundo, influenciar a música internacional e transformar a criação musical popular subseqüente. Movimento renovador da música popular brasileira, influenciado pelo jazz, a bossa nova surgiu na segunda metade da década de 1950 entre jovens de classe média da zona sul do Rio de Janeiro. Caracterizou-se por romper com as fórmulas tradicionais de composição e instrumentação, por harmonias mais elaboradas e por letras coloquiais.
À época do surgimento da bossa nova, a música popular brasileira vivia um momento de impasse, em que os ritmos americanos e caribenhos dominavam o mercado fonográfico. Nesse contexto, um público carioca de elite, do ponto de vista econômico e cultural, redescobriu o samba nascido nos morros e nos subúrbios, criado e interpretado por músicos populares. Esse público era também ouvinte de jazz, que teve influência decisiva, especialmente em sua forma cool, no trabalho de compositores e intérpretes considerados precursores da bossa nova: Dick Farney, o conjunto vocal Os Cariocas, Antonio Maria, Ismael Neto, Johnny Alf, Nora Nei, Dóris Monteiro e Maysa.
A partitura da peça Orfeu da Conceição, de 1956, projetou mundialmente os nomes de Antônio Carlos Jobim (Tom), como compositor, e de Vinícius de Morais, como letrista. Em 1958 foi lançado o disco Canção de amor demais, com músicas e arranjos de Tom e Vinícius, com a cantora Elizeth Cardoso. Apontado mais tarde como um antecedente direto da bossa nova, o disco apresentava em algumas faixas o violonista João Gilberto, cuja revolucionária batida sincopada caracterizaria, daí em diante, a bossa nova.
Em 1959 foi lançado Chega de saudade, disco considerado o marco fundador da bossa nova, com composições de Tom, Vinícius, Newton Mendonça, Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli, ao lado de autores tradicionais, como Ari Barroso e Dorival Caymmi. Interpretadas no estilo contido e coloquial de João Gilberto e acompanhadas pela batida de seu violão, as músicas desse disco apresentavam um surpreendente predomínio dos tons menores, o que simulava desafinação. Desafinado, aliás, era o título de uma das faixas, que se tomaria um clássico do movimento.
Vários nomes logo se destacaram como compositores, além dos já citados: Baden Powell, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves, Sérgio Ricardo, Luís Bonfá, Geraldo Vandré e João Donato, entre outros. Entre os intérpretes, que inauguraram um estilo isento de impostação e virtuosismo, cabe destacar as cantoras Sylvia Teles, Nara Leão e Alaíde Costa; e os conjuntos Quarteto em Cy, Sexteto Bossa Rio, Tamba Trio e Zimbo Trio. Em 1962, uma polêmica apresentação de bossa nova no Carnegie Hall de Nova York projetou internacionalmente o movimento.
Além dos nomes mais ligados ao movimento, muitos outros compositores e intérpretes, como Dolores Duran, Maysa, Billy Blanco, Juca Chaves e Lúcio Alves se deixaram influenciar por ele. Outros foram divulgadores da bossa nova nos Estados Unidos, como Maria Helena Toledo, Astrud Gilberto e Sérgio Mendes.
Embora bem recebida pelo público jovem, a bossa nova era criticada por seu alheamento aos problemas sociais. O espetáculo Opinião foi o divisor de águas entre a chamada "música de apartamento", repassada de humor, ironia e nostalgia, centrada no amor e rica em imagens como a do "barquinho a deslizar no macio azul do mar", e a música engajada, chamada "de protesto". Opinião apresentava dois compositores de origem popular, o maranhense João do Vale e o carioca Zé Kéti, mas foram especialmente jovens de classe média os que mais se destacaram como autores da música de protesto: Marcos e Paulo Sérgio Vale, Geraldo Vandré e Théo de Barros, Rui Guerra, Oduvaldo Viana Filho, Ari Toledo e sobretudo Carlos Lyra e Sérgio Ricardo.
A partir de 1964, a bossa nova começou a perder espaço, que foi ocupado por outras tendências, como o tropicalismo ou a jovem guarda. A música popular, no entanto, estava radicalmente mudada e revalorizada. A influência da bossa nova foi determinante na obra dos excepcionais compositores que se lhe seguiram, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Edu Lobo, Milton Nascimento e Gilberto Gil.

Jacob do Bandolim





Gênero brasileiro por excelência e carioca por adoção, o choro – que imperou durante muito tempo nas rodas e nos saraus – está novamente com tudo, quando jovens músicos e belos grupos se espalham pelos palcos brasileiros. Grandes nomes o choro legou à música brasileira, e um desses nomes, conhecido e admirado por todos os que curtem o gênero, é o mestre Jacob do Bandolim, aniversariante de fevereiro (nasceu no dia 14 deste mês, em 1918).
Jacob Pick Bittencourt foi um, o compositor genial e soberbo instrumentista, cujo instrumento passou a fazer parte de seu nome. Seu nome e seu admirável trabalho ficaram marcados definitivamente como a principal referência brasileira no bandolim – instrumento que ganhou com ele dignidade, fama, nome e sobrenome. Verdade que outros músicos já tinham ganhado a vida com o bandolim – como é o caso do grande Luperce Miranda (1904-1977), pernambucano que começou a tocar bandolim e piano aos 15 anos e que na década de 20 integrou o grupo Turunas da Mauricéia –, mas como Jacob, jamais houve outro.
Nosso homenageado começou a tocar muito cedo, mas por jamais confiar inteiramente na vida incerta dos músicos, exerceu diversas atividades para sobreviver. Trabalhou com vendas, corretagem, foi prático de farmácia, comerciante e até escrivão – profissão que encarou até morrer, em 1969, com apenas 51 anos de idade.
Entre as suas obras mais conhecidas, regravadas e tocadas, estão choros que se integraram definitivamente às páginas mais nobres da música brasileira, comoDoce de cocoNoites cariocasReceita de sambaAssanhadoVibraçõesA ginga do ManéTreme-tremeO vôo da mosca e outros. Tocou com os maiores, ensinando e aprendendo com eles, gente como César Faria, Dino 7 Cordas, Jonas, Carlinhos, Giberto e Jorginho, no histórico regional Época de Ouro, do qual foi um dos fundadores.
Em 1947 Jacob gravou seu primeiro disco solo. Mas durante sua trajetória artística ele deve ter participado da gravação de mais de 400 músicas, em centenas de discos 78 e 33 rpm. Gravou outros, diversos discos, com músicas suas e de outros autores (foi um dos que mais gravou Waldir Azevedo e Pixinguinha), e se apresentou tocando algumas vezes. Uma de suas últimas apresentações foi em um show com Elizeth Cardoso e o Zimbo Trio, em 1968 – que resultou na gravação de um LP. Filho de Jacob, o compositor Sérgio Bittencourt homenageou-o, na década de 70, com um samba que fez muito sucesso, Naquela mesa ("Naquela mesa tá faltando ele/E a saudade dele/Está doendo em mim"), gravado por Elizeth Cardoso, cantora que ele descobriu.

Elizete Cardoso - A Divina!





Este ano, neste mês de julho pp, comemorou-se o centenário de Elizeth Cardoso, exatamente nos 20 anos de sua morte . Foi Chico Buarque quem disse: “Elizeth é a nossa cantora mais amada. Voz de mãe, mãe de todas as cantoras do Brasil”. O que o Chico fala ou escreve não se discute, e quem já ouviu a Divina, uma vez que seja na vida, sabe exatamente o que o poeta quis dizer. A mãe de todas as cantoras do Brasil cantou para este país, feito um canário da terra, por mais de 50 anos. Dos primeiros acordes na Rádio Guanabara, em 1936 (descoberta por Jacob do Bandolim), aos últimos acordes de seu coração, em 1990.
Menina de infância pobre e adolescência humilde, Elizeth trabalhou como pedicure, cabeleleira, telefonista e vendedora de cigarros. Mais tarde, depois de um casamento equivocado e um filho para criar, foi táxi-girl de casa noturna (o Dancing Avenida). Tudo isto, antes do transcendental encontro com Jacob e dos desdobramentos felizes que o destino lhe trouxe: conhecer o poeta e produtor Herminio Bello de Carvalho, que a dirigiu em shows, a ajudou a escolher repertório, cuidou de sua carreira e de seu coração. Mais detalhes, na biografia da Divina,Elizeth Cardoso, uma vida, escrita pelo jornalista Sérgio Cabral.
Mais detalhes ainda, com direito à voz, aos suspiros e depoimentos da cantora, só correndo atrás da caixa de CDs Faxineira das Canções (nome de uma linda música de Joyce, gravada por Elizeth no disco Luz e Esplendor, de 1989), que a gravadora Biscoito Fino lançou em 2003. Traz quatro álbuns fundamentais dessa que é uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos: além de Luz e Esplendor, tem Todo o Sentimento (de 1990), Ary Amoroso (1990) e Elizeth Jacob do Bandolim Zimbo Trio Época de Ouro (1969).

Luiz Gonzaga - A Voz de Um Povo Sem Voz




Nenhum artista brasileiro foi tão importante para a cultura das regiões Nordeste e Norte do Brasil, para a divulgação de como vivia, trabalhava e sofria o homem do mato quanto Luiz Gonzaga do Nascimento, filho do mestre sanfoneiro Januário e da roceira Ana Batista de Jesus, que um dia saiu da pequena cidade de Exu, região do Araripe, no sertão pernambucano, para conquistar o Brasil e fazer sua sanfona conhecida nos quatro cantos do país e até no exterior (infelizmente, só no fim da vida conheceu o sucesso lá fora, quando a convite da cantora Nazaré Pereira fez um belíssimo show em Paris, na casa de espetáculos Bobino). A música de Luiz Gonzaga, que foi coroado “Rei do Baião”, tem para o povo do Norte e do Nordeste do Brasil a importância da fé no Padre Cícero Romão. E já subiu ao posto mais alto do pódio onde também merecem medalhas o xaxado de Jackson do Pandeiro, a arte de barro do mestre Vitalino, a poesia de Patativa do Assaré e de Azulão e a sabedoria moleque de Ariano Suassuna.
Luiz Gonzaga nasceu no dia 13 de dezembro de 1912, na roça, e passou a infância ajudando o pai e o irmão mais velho a plantar milho e feijão na fazenda Caiçara. Januário tinha fama de ser o maior sanfoneiro da região, ganhava uns trocados animando festas juninas e outros arrasta-pés, e o filho logo se interessou pelo ofício e pelo instrumento. Ganhou uma sanfoninha, depois comprou outra um pouco melhor quando serviu ao Exército e um dia empunhou um acordeon profissional para encantar os conterrâneos e correr o chapéu na antiga zona do mangue do Rio de Janeiro, cercanias dos bairros do Estácio e Praça Onze, onde o Rei desembarcou com vinte e poucos anos de idade para fazer o seu nome. E que nome. Herança e orgulho do cancioneiro popular do Brasil.
“O candeeiro se apagou/O sanfoneiro cochilou/A sanfona não parou/E o forró continuou”. Continuou por mais de meio século, período em que o Gonzaga gravou mais de cem discos (entre 78 rotações, LPs e CDs) e compôs grande número de sucessos, com mais de uma dezena de parceiros (os mais freqüentes foram Humberto Teixeira, Zé Dantas, João Silva, Hervê Cordovil, Guio de Moraes e Onildo de Almeida).